22 de julho de 2017

A práxis...

Que tal um minuto para pensarmos um pouco sobre nossas práticas em sala de aula, que tal uma análise mais cuidadosa sobre o que estamos fazendo com nossas crianças e para nossas crianças... A teoria em Educação me encanta, mas confesso que estar em sala muitas vezes me frustra e me entristece... mas porque é tão difícil encontrarmos nas escolas uma educação inovadora, alegre, de qualidade... uma educação que permita o amplo desenvolvimento de nossos pequenos...

Em um primeiro olhar, ainda que de maneira superficial, eu diria que um dos principais erros, ainda é aquela antiga fala e que ainda hoje ouvimos repetidamente... quantas vezes ouvimos dos professores "Mas para que preciso aprender isso..." "Mas por que preciso ler esse autor..." "Teoria é bobagem, em sala de aula a realidade é outra..." Infelizmente muitos pensam assim, continuam trabalhando com amor mas não percebem mais a mágica da educação, simplesmente deixam de querer o novo e o surpreendente, passam a viver a Educação como algo que não requer estudo nem pesquisa, agem mecanicamente, transformando o dia a dia em uma eterna rotina de atividades repetidas e sem sentido,  mas que de alguma forma se tornam suficientes. E isso acontece porque não é possível observar o erro quando estamos mergulhados nele, não é possível perceber as possibilidades de novas atitudes quando estamos enterrados em nossos velhos "achismos"! E definitivamente, Educação não pode ser baseada no que achamos estar certo, no que acreditamos dever fazer... é preciso estudo, aprendizagem, compreensão, entendimento. Compreender os caminhos neurológicos, as etapas fisiológicas, conhecer pesquisas que iluminaram o mundo da Educação, aprender com pessoas que dedicaram suas vidas a causa, permitir-se ser aprendiz para somente depois desejar ser mestre...

As crianças vivem momentos muito específicos durante o período escolar, os ciclos, os currículos, nada foi feito ao acaso, nada é indicado sem razão... quando olhamos uma determinada atividade sugerida, a primeira atitude deve ser o compreender o sentido daquilo, o propósito... porque você está fazendo isso, o que pretende com isso... Se a resposta estiver no que você acha ser certo, então você corre o risco de estar errado... a sua resposta precisa ser pautada em pesquisa, conhecimento, em benefícios concretos para os pequenos, e para isso você precisa realmente saber o que está fazendo e porque está fazendo... o que infelizmente nem sempre acontece na realidade das salas de aula....

Não há sentido em sufocar seus alunos, independente da idade, com atividades que você gosta de fazer, com coisas que você acha necessário eles fazerem, com repetições e imposições... com atitudes que de certa forma agradam o professor, os pais, até mesmo o desconhecido que observando de fora pode achar "bonito" ou "criativo"... mas que para a criança não teve nenhum sentido, não significou nada, não levou a nenhum lugar... Grande quantidades de papel, envelopes repletos de pinturas, desenhos, textos, e que em sua grande maioria, não fizeram nenhum sentido para os alunos, atividades que não agregam nada, que não proporcionam nenhum tipo de aproximação com o conhecimento, nenhuma possibilidade de desenvolvimento... Lindos projetos, belíssimos planos de aulas, mas que quando aplicados não apresentam resultados, porque foram feitos para o professor e não para o aluno.

O conhecimento mostra que forçar uma criança a realizar determinada atividade, quando feito em um período inadequado, pode causar graves problemas no seu desenvolvimento emocional futuramente. O conhecimento mostra que o carinho auxilia na aprendizagem, que criança que se sente segura aprende a aprender com maior facilidade. O conhecimento mostra que gritos, medo e imposições levam a penas a resignação e medo mas de maneira alguma levam a aprendizagem... Muitas coisas o conhecimento poderia alterar nas rotinas escolares.... Mas infelizmente a Educação ainda vive na ideia apenas de disciplina e tinta guache, na ideia de cópia de livro e de manter os alunos ocupados e quietos enquanto corremos para finalizar um amontoado de papel colorido, de coisinhas bonitinhas e sem sentido que no fim das contas fazem tudo parecer muito criativo, mas que na realidade não levaram a lugar nenhum.

A criança pequena não é um mini ser humano, a maneira que pensam e observam a vida é diferente da nossa... sua cabecinha ainda está se preparando para o mundo. Eles precisam olhar e manipular as coisas, precisam de aceitação, de compreensão, precisam de apoio, de intervenção na hora certa, de atitudes que os levem a situações de aprendizagem e descobertas... Criança não precisa sentir medo, criança não precisa fazer fila com dois anos de idade, não precisa comer sozinho com 11 meses, não precisa ficar sentadinho pensando na vida.... porque eles ainda nem possuem essa capacidade... O que uma criança aprende com gritos e castigos é a não repetir determinada coisa, eles deixam de fazer algo sem nem ao menos saber o porque... ficam resignados quando passam a aceitar uma rotina que não compreendem... Seria como adestrar um animal, ele passa a saber o que precisa fazer para que não gritem com ele mas nunca vai conseguir compreender o porque de precisar agir daquela maneira. É isso que fazemos com nossas crianças quando não respeitamos sua fase de desenvolvimento, quando não respeitamos sua individualidade e quando passamos a agir mecanicamente e sem uma maior compreensão de nosso próprio trabalho.

"Piaget é bobagem", "Paulo Freire é perder tempo", "Nunca nem abri esse livro", "Não preciso de teoria.", "Criança tem que obedecer e pronto.", "Esse atrapalha o andamento da atividade", "Vai fazer o que eu quero sim!", e por aí vai... um monte de pensamento ultrapassado e pobre que levamos para sala de aula e que passamos a repetir diariamente, transformando a Educação em algo maçante, levando nossos alunos a um sentimento de aversão pela sala de aula, a falta de vontade de aprender. E fazemos isso sem nem perceber, destruímos possibilidades, enterramos tantas doces possibilidades de crescimento e desenvolvimento...

Quantas crianças odeiam a escola, quantas não querem ir para a sala de aula, quantas crianças condenamos a insegurança, ao medo, a impressão de não serem adequados, de precisarem ser algo que não são, de não serem aceitos e amados. E tudo em nome de disciplina e letra cursiva aos 4 anos! Talvez elas se tornam resignadas e quietas, talvez passem a perder suas horas em frente a um caderno de caligrafia com palavras sem sentido, talvez passem a acreditar que é aquilo que precisam fazer para serem amadas... mas será... será que estamos permitindo a infância de nossas crianças, a individualidade, a alegria, a espontaneidade... a prática, na maioria das vezes, nos mostra que não...

Para ser um bom médico você precisa conhecer o corpo humano em detalhes, precisa estudar o corpo humano, a maneira como ele funciona, não basta achar que algo está errado, médico não acha, ele sabe que precisa estudar e compreender. Um advogado precisa conhecer todas as leis, saber os caminhos que elas levam para funcionar na sociedade. Um engenheiro precisa ser preciso em seus cálculos. Toda profissão requer conhecimento, estudo, dedicação, pesquisa, um ato contínuo de sempre buscar aprendizado naquilo que se propõe... E infelizmente, ó que falta na Educação, é exatamente isso, a formação contínua do profissional, o desejo constante de saber mais sobre o que faz, falta essa chama, essa crença de que estudar é preciso.

E eu fico aqui pensando.... o quanto tudo isso é contraditório... é absurdo olhar para um professor e perceber que ele não acredita no poder do estudo! Um professor que acha que não precisa estudar nem aprender coisas novas é um professor que jamais despertará no seu aluno o amor pelo conhecimento, o desejo de compreender o mundo, de mudar o mundo... são esses professores que fazem as próximas gerações resignadas, caladas... gerações que não se sentem no direito de pensar, de questionar, gerações que não compreendem a cidadania, a possibilidade, que não sabem o valor da educação, o valor de aprender, de conquistar! Gerações que aprenderam a obedecer ordens sem sentido, a calar, a ter autonomia para amarrar os sapatos mas a não ter autonomia para dizerem o que gostam ou não de fazer. Gerações que aprenderam que devem repetir o que é feito sem questionar, que perderam a voz, que foram rotulados e julgados e condenados a viverem uma realidade totalmente fora do que realmente precisavam para se verem como seres humanos únicos e maravilhosos!

Se você é professor e ficou bravo com meus pensamentos eu só tenho a lamentar, se você é professor e ainda acha que atividade para pai ver é a razão de estar em uma escola, eu só lamento por voê e por seus alunos... Se você é professor e não compreende o que escrevi eu apenas sinto pena... pena de tudo aquilo que você poderia fazer e não percebe ser capaz...

Mas se você é professor e se assim como eu não aceita tudo isso, eu te convido ao estudo, a busca do conhecimento, a leitura incessante, ao desejo ardente de crescer... mas mais que isso... eu desejo que você tenha coragem, coragem de dizer não, coragem para apontar o que precisa ser mudado, coragem para não entrar no jogo, para não se vender barato.... coragem para mudar o mundo!

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