30 de julho de 2017

Direito da criança

Criança precisa de respeito, carinho, amor, mas criança precisa de algo, que ao meu meu ver, é de grande importância, e que nos dias de hoje estamos deixando de lado... criança precisa de atenção! A correria de nossos dias nos tem tirado o que mais precisaríamos dar aos nossos filhos: o nosso tempo e nossa atenção. E não é apenas um erro cometido por pais que trabalham fora, é um erro que todos cometem e que cada vez mais tem alterado o desenvolvimento de nossas crianças. Em casa ligamos a TV ou entregamos um celular nas pequenas mãozinhas de nossos filhos e assim sem pensar dizemos "fica quietinho aí brincando.", como se nesse ato estivéssemos demonstrando nosso amor... saímos para ganhar nosso pão de cada dia e como uma forma de matar nossa culpa passamos a comprar presentes caros e atender cada birra... pegamos nossos pequenos nas escolas, depois de horas sendo "institucionalizados" e entregamos em suas mãozinhas, novamente, algo que os façam ficar quietinhos enquanto nós resolvemos os problemas da vida. E nas escolas... nas escolas o pensamento não muda muito, professores amam os alunos quietinhos, que obedecem as ordens, realizam as tarefas, obedecem os horários... professores gostam de alunos resignados, daqueles que se encaixam no sistema, que seguem as regras da "instituição" sem questionar, sem reclamar, como pequenos robozinhos cumprindo seus papéis de criança em desenvolvimento... é normal ouvirmos termos como "adaptar", "inserir"... termos que quando ouço me remete a termos como "adestrar", "condicionar".... termos que me cortam o coração e que me fazem repensar qual é o real papel de um professor. Acredito que o papel de um professor, assim como o papel de um pai e de uma mãe, seja permitir e fornecer elementos essenciais para o desenvolvimento da criança, com respeito a sua fase de desenvolvimento, com respeito a suas limitações, com respeito aos seus desejos, porque criança tem sim desejos, eles possuem características próprias, reagem de maneiras diferentes a cada situação, criança tem personalidade... e isso também deve ser respeitado. Acho mesmo, que como professores e pais, devemos aprender um pouco mais sobre como olhar para nossos pequenos, como atender seus desejos de maneira responsável, atentos as suas reais necessidades. Vivemos em sociedade e entendo que precisamos ensinar nossas crianças a viver assim, mas acho extremamente cruel pularmos a etapa da infância exigindo de nossos pequenos uma autonomia que eles ainda não possuem maturidade para vivenciar. Eles vão ter a vida toda para aprender a amarrar os sapatos, a vida toda para comerem sozinhos, a vida toda para aprenderem a ficar sozinhos, vão ter a vida inteira para socializar e ser politicamente correto... por hora tudo que precisam é ser criança e ter o direito de ficar fora desse sistema tão indiferente que criamos para nossas vidas. Se você é mãe e tem um filho que considera difícil, para por um minuto de olhar para ele como parte do sistema e olhe para ele como ser único e individual, como alguém que está aprendendo a sobreviver nesse mundo e que não tem a menor ideia do que precisa fazer para ser amado e querido... e o mesmo se aplica para o professor e seu aluno... que tal olhar para aquele aluno que dá trabalho e mudar o foco... A falta de tempo nos tira o olhar, nos tira a atenção individual que a criança requer, e isso é muito perigoso! Estamos criando crianças solitárias, crianças independentes, crianças sociáveis, crianças que sabem ligar o celular, que sabem amarrar os sapatinhos, que vão sozinhos ao banheiro, que comem sozinhos, sem chupeta, sem mamadeira, sem colo... mini adultos, que como nós abaixam a cabeça, obedecem as ordens e entram no jogo da vida... resignados, quietinhos, obedientes. Observe seu filho, observe seu aluno... o choro, a raiva, a agressão, a birra, o silêncio, a falta de alegria ou o excesso de barulho... observe o que ele tem tentado te mostrar, de que maneira ele está demonstrando que algo não está bem em sua vidinha... Será que o que você vê como um problema da criança na verdade não é um problema que os adultos estão criando para essa criança... o que em sua rotina o está desagradando, o que você está o obrigando a engolir e a aceitar... Criança precisa de amor e vai cobrar esse amor das maneiras mais diversas... observe as pequenas mudanças em seu pequeno, as pequenas atitudes, coisinhas que podem parecer insignificantes, mas que na realidade podem ser um grito de socorro. Criança tem sim que aprender a fazer parte da sociedade... mas nós adultos precisamos, antes de querer ensinar isso, termos a humildade de nos colocarmos no lugar de aprendizes e nos dispormos a aprender mais sobre o mundo infantil.... sobre a maneira fantástica que suas cabecinhas se desenvolvem, que seus corpinhos ganham liberdade de movimentos e ações... que seus olhares vão se abrindo para o mundo... antes de nos colocarmos no lugar de mestres temos que nos colocarmos no lugar de alunos também... pois temos muito mais a aprender com elas do que elas conosco! Não crie seu filho para o mundo que você acha ser correto, não ensine seu aluno a fazer o que você acha correto.... apenas permita que ele cresça, que mostre sua identidade, que demonstre sua maneira de olhar para o mundo... interfira quando preciso, oriente quando necessário, mostre o caminho quando achar importante... mas não obrigue seu pequeno a ser algo que ele não é, a querer algo que ele não quer... não diga pra ele ficar quietinho.... incentive-o a falar, a mostrar o que sente, a ser livre para ser quem é... mostre para ele que ele é amado exatamente como é, que pode ser exatamente como é... inquieto, falante, bagunceiro as vezes, criança apenas!!!! O meu não ao mundo dos quietinhos e obedientes, o meu não ao mundo do institucionalizado, do resignado, do apático...  E meu viva ao mundo dos que questionam, dos que apresentam curiosidade e alegria, dos que não se encaixam nesse mundo infantil dos celulares e televisão... meu viva aos que não sabem amarrar os sapatinhos e não ligam pra isso, aos que olham sem medo, aos que se zangam quando são obrigados a algo que não querem... meu viva aos pequenos do mundo que não se condicionam a nossa rotina tão sem vida, tão sem amor! Educo meus filhos para sentirem sem medo, para mostrarem o que sentem, para serem livres para dizer não, para olharem com coragem para o futuro... ensino cada um deles a ser tudo isso, com respeito pelo outro, com amor pelo mundo, com sabedoria para compreenderem as regras que terão que aprender... mas sempre sendo eles mesmos e sempre na certeza de que são amados e queridos exatamente como são! Pouco importa a letra de mão aos 4 anos, pouco importa comer sozinho antes dos dois anos, pouco importa limpar o próprio bumbum antes mesmo de aprender a falar, pouco importa saber as cores, saber ligar o celular, saber fazer fila... pouco importa isso tudo gente... eles terão a vida toda para serem adultos... permitam por hora que sejam apenas crianças... pois é isso que são e é isso que precisam ser...

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