25 de abril de 2015

Sobre a greve dos professores

Estive duas vezes em escola pública trabalhando como estagiária e nas duas vezes estive diante da mesma realidade mas de maneiras totalmente diferentes de viver essa realidade. Em uma dessas escolas, um dia eu ouvi de uma professora: "30 crianças desajustadas, com pais ausentes, em uma sala de aula sem lâmpadas, sem papel, sem material, não tem como trabalhar assim" e em outra dessas escolas ouvi uma professora já perto de se aposentar dizer "estou trazendo os pais para o meu lado, não tem sido fácil mas muitos já colaboram, eles são tão pequenos e precisam tanto dessa estrutura, como poderão aprender nessas condições..." Não sou ninguém para julgar o certo e o errado de cada um, mas sempre que minhas filhas passam de ano eu me vejo rezando para que elas peguem uma professora como a que conheci na segunda escola... e graças a Deus elas tem tido essa sorte! Na escola de minhas filhas o teto já chegou a cair, não tem pintura nas paredes, as salas estão com vidros quebrados nas janelas, por duas vezes ladrões entraram e roubaram os poucos materiais... eu chorava no início as vezes quando entrava lá e via minhas pequenas tão pequenas e sendo obrigadas a viver aquela realidade mas tenho sorte pois existem pessoas lá dentro que lutam todos os dias para transformar a realidade de minhas filhas. Atras da sala da Carolina existia um terreno sujo e abandonado que o professor de educação física transformou em horta, e ficou lindo! Sem nenhuma ajuda, com pneus velhos e material de doação, as atividades chegam em 1/4 de papel sulfite por falta de material mas percebo em cada uma delas um carinho enorme e dedicação exemplar! E sabe... por mais que eu entenda as greves e entenda a revolta de cada professor que está na rua, todos os dias quando minhas filhas chegam da escola eu faço uma oração pelas professoras que permanecem, que independente das condições continuam ensinando minhas filhas, dando amor, carinho, superando todos os problemas para conseguirem fazer daquele ambiente um ambiente melhor para as crianças. Quando eu trabalhei em Itapevi, passava 4 horas dentro de trens e ônibus lotados para chegar na escola, era um curso de adultos, quando eu cheguei pela primeira vez me deparei com 30 ou 40 cadeiras sujas e quebradas distribuídas em uma varanda rodeada de mato que havia sido emprestada pelo dono de um clube abandonado da cidade, tínhamos que atravessar umas boas passadas no meio da lama para chegar no refeitório, enfrentávamos alunos revoltados, totalmente descrentes da vida, que iam ali todos os dias apenas para tomar café da manhã, almoçar... alunos que andavam por horas para não gastar o vale transporte que recebiam. E foi naquele tempo que conheci um professor apaixonado pelo que fazia e que me ensinou a ter paixão pela educação. Ele e tantos outros professores que passam por isso todos os dias e permanecem, ele e tantos que como a professora quase aposentada de minha escola, que apesar de sofrer na pele a injustiça de um sistema sujo e corrupto, continuam olhando apenas para as crianças e lutando por elas. Vejo reportagens com professores revoltados, explicando as condições de trabalho, tentando mostrar para o mundo o porque das greves, mas é engraçado porque eles esquecem que a grande maioria sabe exatamente o porque, a grande maioria, como eu, vive essa realidade do lado que mais dói, do lado da criança... pais que todos os dias levam seus filhos para um ambiente tão precário, que desejam mais do que ninguém, salas coloridas, pátios bonitos, material em abundancia, livros, boa merenda e tantas outras coisas que nossas crianças merecem ter... Que tristeza a realidade de nosso Brasil, nos hospitais os médicos justificam o mau atendimento as condições de trabalho, nas escolas nossas crianças vivem a realidade do abandono, nas ruas nossos jovens morrem por falta de segurança... que tristeza meu Deus... estamos sendo abandonados e estamos abandonando nossos princípios, nossos valores... nossas crenças... Eu entendo, como professora, o lado revoltante que levou os educadores para as ruas, mas como mãe eu me pego questionando e lamentando... Pouco me importa de quem é a culta, se o Presidente, o Governador, o Prefeito, o Partido x ou o Partido y... quero mais é que todos se explodam... acho lamentável essa discussão, acho triste que o olhar se volte para esse lado. Crianças estão sendo abandonadas em seus direitos e pra mim que sou mãe, pouco importa o culpado... Agradeço as professoras de minhas pequenas que enfrentam as mesmas dificuldades e permanecem, agradeço a cada funcionário da escola que enfrentam as mesmas dificuldades e permanecem e lamento profundamente pelas crianças que não estão tendo a mesma sorte.

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